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Intervenção de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique, nas exéquias fúnebres do Senhor Afonso Dhlakama, líder da RENAMO e Membro do Conselho do Estado.

Beira, 09 de Maio de 2018

Senhores Ministros;
Senhora Governadora da Província de Sofala;
Senhor Coordenador da Comissão Política Nacional da RENAMO;

Senhor Secretário Geral da RENAMO;
Senhores Deputados da Assembleia da República;
Senhores Membros do Corpo Diplomático Acreditado em Moçambique;
Senhores Membros da Assembleia Provincial de Sofala;
Senhor Presidente do Município da Beira;
Senhores Representantes dos Partidos Políticos!
Família Dhlakama;
Caros Compatriotas;
Minhas Senhoras e Meus Senhores.

A Nação Moçambicana foi colhida de surpresa, na manhã do dia 3 de Maio de 2018.
Deixou-nos, fisicamente, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, Presidente da RENAMO, o maior Partido da Oposição em Moçambique, vítima de doença!

Em nome do Governo de Moçambique, do Povo e no meu próprio, lamento a perda de um compatriota que, do seu modo, fez parte da História recente de Moçambique. Com a mesma serenidade enfrentamos juntos o mesmo sentimento de luto. Esta é uma prova da maturidade e do sentido cívico do nosso povo.

Compatriotas!

Em situações difíceis como esta todos temos de ter a força e a lucidez para superarmos as emoções que nos atravessam. Todas as nossas diferenças tornam-se, neste momento, secundárias e irrelevantes. Somos um só sentimento, um mesmo sentimento de Norte a Sul do país.

Como Moçambicanos reconhecemos acima de tudo que, até à sua morte, Afonso Dhlakama tinha convicções próprias sobre o pluralismo político em Moçambique. E que ele se entregou inteiramente à defesa dessas convicções.

Caro Irmão Dlhakama, filho mais velho do Régulo Mangunde! Homem incaracterístico na sua visão, homem a quem a história de Moçambique reserva páginas indeléveis, assinalando um percurso histórico; Perante o teu corpo inerte, recordamos que a vida é um presente, uma dádiva que nos supera a todos nós. Essa dádiva termina em qualquer momento como se a morte nos lembrasse que tudo o que temos como certo é apenas o presente.

Quero reafirmar que iremos prosseguir a obra que juntos iniciámos, isto é, a construção da Paz e o reforço da democracia através do aperfeiçoamento da descentralização e desconcentração.

Reafirmo a minha disponibilidade de continuar com o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração Social dos militares da RENAMO já iniciado. O fecho deste dossier será sempre considerado uma obra colectiva dos Moçambicanos,
uma obra para a que Afonso Dhlakama contribuiu até ao final dos seus dias.

O tempo que hoje vivemos, tomamo-lo como fonte de inspiração e como uma oportunidade para transformar Moçambique numa terra sem ódio, numa nação que sabe ser unida e forte mesmo nos momentos mais difíceis e tristes.

A sua colaboração no processo de Paz, mantém-se viva em mim. A sua voz não se desvanece, quando, telefonicamente falámos, no passado dia 11 de Abril. E ainda ecoam em mim as suas palavras: “Presidente, mesmo que haja dificuldades ou obstáculos, nunca cortemos os laços de entendimento… o processo de paz não pode falhar…”.

Povo Moçambicano!

Que fique claro que, com os moçambicanos, irei dar continuidade a todo o processo de construção da Paz, juntamente com a nova liderança do Partido do Dhlakama, respeitando sempre o quadro legal e institucional.

O diálogo que juntos estabelecemos, as conclusões que alcançámos na presença da sua equipa mais restrita, aquela que mesmo não fazendo parte das comissões formalmente por nós estabelecidas, tudo isso constitui um património seguro para que o processo de dialogo seja concluído a favor do Povo Moçambicano.

As pessoas que acompanharam este processo de diálogo continuam connosco e os registos desses encontros prevalecem como testemunho e como base para os próximos passos que, juntos iremos dar. É esta a promessa que lhe queremos fazer.

Moçambicanas, Moçambicanos;
Minhas Senhoras e Meus Senhores!

Como Presidente de todos os moçambicanos assumi desde o início o dever de criar uma cultura de diálogo que sustentasse a construção da paz efectiva no nosso país.

Este processo já deu passos decisivos e está a criar uma cultura nova de aceitação das nossas diferenças. É preciso não esquecer que, ainda há pouco tempo, a violência e a intolerância minavam as pontes do nosso entendimento.
Neste processo de reconciliação Afonso Dhlakama foi-se revelando parceiro incontornável para colocar um ponto final num passado carregado de suspeitas, de ódio e de mortes.

Com Afonso Dhlakama mantive um diálogo próximo e intenso. Nessa interacção pessoal, procuramos sempre aproximar os Moçambicanos em defesa dos interesses comuns que nos fazem ser Nação. Soubemos definir, em cada passo, que aquilo que nos podia unir era mais forte do que o que nos separava.

Nesse processo de diálogo houve momentos de discórdia, de tensão e de muita pressão. Houve questionamentos, houve dúvidas, houve confronto de ideias.

Não podia ser de outro modo, pois sabíamos que estavam em jogo assuntos sensíveis e dos quais dependia a vida do Estado Moçambicano e dos seus mais de 28 milhões de habitantes.

Nesse debate regular, fomos construindo confiança mútua. Nesse debate aprendemos a respeitarmo-nos e a reconhecermo-nos como irmãos que partilhavam o mesmo destino. Esse destino chama-se Moçambique. Ambos sabíamos que não havia senão uma escolha enquanto compatriotas. E essa escolha chama-se Paz.

Quando a solução das nossas discussões tardava, quando essas demoras exigiam a minha serenidade e paciência, recordo-me do seu apurado sentido de humor que nos ajudava a aliviar a tensão do momento e a vislumbrar novos caminhos.

A partida prematura do nosso compatriota não deve constituir um revés neste processo de diálogo. Estaremos honrando a sua memória, se soubermos concluir, de forma responsável e célere, o diálogo político que agora se centra sobretudo no processo de descentralização, no desarmamento, desmobilização e reintegração.

Aos nossos amigos internacionais pedimos para que continuem a nos ajudar a respeitar as diferenças do Moçambicanos para que o grande país se reencontre, e promova o bem estar das gerações vindouras.

Moçambicanas, Moçambicanos!

Afonso Dhlakama já não se encontra, fisicamente, entre nós. Ficarão em todos nós as memórias da sua vida, do seu percurso social e político, memórias que cada um de nós guardará à sua maneira.

Da RENAMO, esperamos que se assuma o espírito e a obra do seu líder e se honre a sua memória, em palavras e actos. Esperamos prosseguir juntos os caminhos já iniciados para a criação de uma paz efectiva, duradoura e sustentável em Moçambique. Esperamos que os dirigentes da RENAMO encontrem a serenidade de que precisam para se reerguerem da dor causada por este infortúnio.

Queridas e queridos Compatriotas!

Há muito que tenho sublinhado a importância do papel da oposição na governação em Moçambique. Não se pode falar duma democracia sólida sem uma oposição sólida. Todos precisamos de uma oposição construtiva e patriótica, de uma oposição que saiba colocar Moçambique em primeiro lugar.

O diálogo político implica ajustamentos e cedências, cedências alinhadas com os interesses colectivos dos moçambicanos. O campeão pelo sucesso do diálogo só pode ser Moçambique. O vencedor seremos todos nós. E ao vencermos poderemos, então, recolher os frutos de um Moçambique unido, moderno e próspero.

Todos sabemos que Moçambique, ao longo dos anos, perdeu muitos dos seus melhores filhos. O diálogo que mantinha com o líder da RENAMO era uma homenagem a esses moçambicanos cujas vidas foram eliminadas pela violência e pela intolerância.

Ambos sabíamos que é imperioso virarmos não apenas uma página mas escrevermos uma outra narrativa em que as diferenças políticas sejam vividas como um factor de respeito, de agregação e de unidade.

Afonso Dhlakama não foi apenas um dirigente político. Ele era também esposo, pai, chefe de família, filho, irmão, tio, avó, companheiro e amigo dos seus amigos.

À viúva, aos filhos, ao pai Régulo Mangunde, à família e aos amigos do Presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, bem como aos membros e simpatizantes do seu Partido, a RENAMO, endereço as nossas mais sinceras condolências.

Em nome do Povo moçambicano, quero deixar palavras de reconhecimento a todos aqueles que tudo fizeram, prestando apoio na tentativa de lutar contra a partida precoce do compatriota Afonso Macacho Marceta Dhlakama.

O reconhecimento vai, também para o grupo internacional de contacto, no âmbito do diálogo, indicado por mim e pelo Presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama. A esse grupo agradeço por tudo o que fizeram no terreno, na tentativa de ajudar o nosso compatriota Afonso Dhlakama.

Não gostaria de ignorar a disponibilidade imediata mostrada pelo irmão Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, quando por antecipação, solicitei apoio caso fosse possível a transferência de Afonso Dhlakama na fase final da sua doença.

Igualmente, ao irmão Emmerson Mnangagwa, Presidente da República do Zimbabwe, que mesmo tomando conhecimento tardiamente, acedeu ao nosso pedido, colocando à disposição meios aéreos capazes de prestar qualquer apoio, mas igualmente não foi a tempo de agir.

Em nome do Governo de Moçambique, quero manifestar os agradecimentos aos Presidentes e outras individualidades de outros cantos do Mundo, que nos dirigem mensagens de condolências e de conforto. Em nome de todo o povo, muito obrigado a todos.

Nós os moçambicanos podemos e devemos fazer o melhor para este país. Nós os moçambicanos queremos e devemos viver juntos e em harmonia. Nós os moçambicanos em paz devemos trabalhar para melhorar a qualidade das nossas vidas. Em Moçambique haja justiça para todos os que habitam este solo pátrio.

Descanse em Paz, Caro Irmão, Afonso Macacho Marceta Dhlakama!

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